domingo, 23 de maio de 2010

E a tal da "Neutralidade Científica"?



Demoro mais tá aí galera!!!!!!



ND, J.M. Sobre a Neutralidade cientifica.
Les Tempos Modernes. Paris. 288,p. 29-32. Jul 1970

Graças ao legado de Jean Thibaud, antigo diretor do Instituto de Física Nuclear de Lyon, a Academia de Lyon concede a cada dois anos um prêmio a “um jovem físico... para recompensar seus trabalhos”. Em 1970 este prêmio foi dividido entre G. Ripka, engenheiro de C.E.A. epor J. M. Levy Leblond, professor da Faculdade de Ciências de Paris.

A seguir encontra-se o pronunciamento à Academia Lyon feito por J.M. Levy Leblond, a 13 de janeiro de 1970, por ocasião da entrega do premio Thibaud. Este texto pretende esboçar a indispensável análise critica e a desmistificação do papel que hoje desempenham em nossa sociedade a ciência e a pesquisa científica.

Esta breve mensagem não pretende oferecer uma argumentação exaustiva a todas as idéias que menciona. De fato seu significado essencial, consiste em ser um ato militante, em ruptura a ideologia dominante e a pratica habitual do meio científico. E é ai onde se deve buscar origem real dos processos jurídicos de enculpação por “degradação do monumento público” e das vidas administrativas (suspensão das funções) de que foi vitima J.M. Levy Leblond, por iniciativas das autoridades universitárias.

...Com grande satisfação recebo hoje o prêmio Thibaud concedido por sua academia. Experimento, ao poder agradece-lo pessoalmente, um prazer muito especial cuja a natureza espero conseguir faze-los compreender. Com efeito, este prêmio me é útil e precioso por várias razões. Em especial, porque ofereceu a oportunidade de aprofundar um certo número de questões q respeito de minha condição de pesquisador, de cientista, bem como a possibilidade de expor, hoje algumas de minhas conclusões.

É importante receber um prêmio como este sem se colocar algumas questões:
- de que serve esta recompensa?
- o que fiz para merece-la?
- aos olhos de quem? E, mais amplamente: para que?
- a quem serve, definitivamente, minha atividade científica?
- porque sou pesquisador?
- quais são minhas motivações pessoais?
- por que a sociedade organiza a investigação científica?
- qual é o papel da ciência em nossa sociedade?

Por outro lado, estes problemas são colocados, cada vez com maior freqüência, no nosso meio e fora dele, sobretudo a partir do grande movimento em maio de 1968 e dos profundos questionamentos que desencadeou.

Existe uma série de respostas “naturais” a todas essas questões; não é absolutamente evidente que a ciência desempenhe atualmente um papel fundamental na evolução da sociedade e é o motor essencial de sues progressos? E que o cientista passou a ser, portanto, o agente essencial do destino da humanidade e extrai deste pensamento suas motivações básicas e suas maiores satisfações? Ninguém discutirá que, sob formas ligeiramente menos claras, estes são os bancos universitários e difundido tanto pelos organismos mais conservadores como por algumas vozes pretensamente revolucionárias.

Existem, no entanto excelentes razões para levantar sérias dúvidas sobre a validade destas respostas. Consideremos, em primeiro lugar, a relação entre a pesquisa fundamental q os progressos da sociedade.

Não há dúvidas de que dois dos ramos mais custosos e mais prestigiados da ciência atual são a física das partículas de altas energias e a física espacial. Porem aonde estão suas contribuições para o progresso geral? A quase totalidade dos físicos de altas energias não terão a menor dificuldade em reconhecer que não se pode esperar nenhuma aplicação de seu setor. E quanto às repercussões tão divulgadas da ciência espacial só conheço as cápsulas de cerâmica refratária e outros objetos parecidos. È evidente que me sinto tão mais qualificado para referir-me a estes problemas uma vez que meus próprios trabalhos, pelos quais fui considerado hoje merecedor de uma recompensa, são um exemplo claríssimo de pesquisa “pura”, quer dizer, gratuita e sem outro interesses senão o de provocar a curiosidade de uma centena de especialistas em todo o mundo.

A maioria das pesquisas reveste-se, atualmente deste caráter totalmente esotérico e só são compreensíveis a uns poucos iniciados. É verdade que existem outros campos onde se vislumbram possibilidades de aplicação: a medicina ou a agronomia por exemplo, parece que podem contribuir atualmente com algumas respostas técnicas em relação aos problemas da fome e das doenças que atingem a maior parte da humanidade. Porem, precisamente a natureza das estruturas sociais impedem que estas soluções técnicas possão ser postas em prática. Pensemos unicamente no escândalo de alguns hospitais abarrotados, na medicina degradante para as classes populares, nos superbenefícios das industrias farmacêuticas e na falta de recursos para as pesquisas médicas na França, para não falar no problema dos países que acabam de se livras de domínio colonial. E se os progressos da técnica provocam em geral um aumento da produtividade industrial não se conhecem casos qie isto tenha tido, como conseqüência direta, a melhor das condições de vida das classes populares. São necessárias várias e constantes lutas sociais para obrigar as classes dominantes a não utilizar em seu beneficio exclusivo as novas possibilidade originais pela ciência moderna. A modernização técnica da empresas se traduz, quase a sempre, em demissões. Entre 1958 e 1968, as técnicas e a produtividade industrial aumentaram prodigiosamente; porem, foi necessário a grande greve de maio-junho de 1968 para que classes operária como um todo obtivesse algumas melhorias de sua condições de trabalho, melhorias que, pouco a pouco, foram novamente anuladas pela classe patronal. Estas dúvidas quanto à função progressiva da ciência provocam outras, quanto às motivações dos cientistas. Alem disso, são cada vez mais numerosos aqueles que tomam consciência desta situação e chegam a consfessá-lo. Porem, muito frequentemente, é para refugiar-se em uma ética de conhecimento com valor em si, onde a ciência se converte em seu prórpio objetivo. Trata-se, em dúvida, do a ultimo recurso de quem se nega a contemplar os fatos de frente.

Porem, nada mais distante de mim do que insinuar qua a ciência, a pesquisa não sirvam pra nada; estou convencido, ao contrário de que são muito úteis. Somente não servem em absolutamente àqueles e à aquilo a que pretendem servir. A atividade cientifica como qualquer outra, não é separável do conjunto do sistema social em que se pratica. Como as demais, está orientada, principalmente, com vistas a garantir a perpetuação, ou ao menos a sobrevivência, deste sistema. Os mecanismos através dos quais assume este papel são numerosos e complexos. De qualquer maneira podemos assinalar vários tipos relação. No plano político, em primeiro lugar, é evidente que as potencias imperialistas utilizem ao máximo os recursos da técnicas modernas para dotar-se de um armamento destinado a garantir-lhes seu poder. É no terreno militar, sem duvida, que a investigação cientifica tem encontrado, nos últimos anos, as aplicações mais numerosas e mais coerentes. Porem, inclusive neste campo, a utilidadee a eficácia destas aplicações estão limitadas, apesar da chantagem do terror atômico. Basta ver a resistência vitoriosa do povo vietnamita agressão americana para convencer-se de que em algum lugar a técniva e a ciência são suficientes para garantir o poder militar e político. Alem disso, oestas aplicações militares recorrem principalmente a algumas descobertas relativamente antigas e não à pesquisa cientifica fundamental, que é a que mais interessa neste momento. Em segundo lugar no plano econômico. Todos nós sabemos o papel cada vez mais importante que desempenha a pesquisa fundamental, no orçamento dos países capitalistas avançados. É possível crer seriamente que se permitissem invenções tão importantes  se não tivessem nenhuma utilidade ? Dado que, que como já indiquei, essas invenções não estão destinadas geralmente a promover aplicações mais ou menos técnicas, parece que são em si mesma uma necessidade do sistema. Na realidade, pode-se entendê-las como um meio a mais que o capitalismo moderno utiliza para remediar suas antigas crises de "superprodução" cíclica. Como a produção científica não origina um consumo de massas, pode desempenhar um papel de regulador econômico tal qual a corrida armamentista. Isto fica demonstrado pelas repentinas restrições orçamentárias que se impõem á pesquisa, e nos períodos de recessão fecha-se a torneira do desague quando o nível baixa. Ao contrário, nos períodos de prosperidade econômica, a investigação científica é uma fonte fabulosa de super benefícios para algumas indústrias, a eletrônica por exemplo. Os monopólios encontram deste modo um meio particularmente discreto de embolsar os fundos públicos, quer dizer, o que o Estado arrebata da massa dos trabalhadores. Porém não insistirei mais sobre os aspectos econômicos que mereceriam, no entanto, ser estudados de perto.

Gostaria de mencionar, agora, o crucila papel ideológico da ciência. Cabe adiantar a idéia de que depois da religião, e das "humanidades" clássicas, atualmente é a ciência que, cada vez com mais vigor, apoia e estrutura as formas da ideologia imposta pela classe social no poder, a burguesia. A ciência é invocada para cobrir com uma máscara de objetividade e tecnicismo a dominação desta classe: capitalismo? exploração?. Não claro que não, só se fala de pesquisa operacional, de Management, etc. Os cientistas eminentes ou assim considerados, se vêem investidos de uma missão implícita de " publirelations" do sistema: Leprince-Ringuet aparece na televisão para dizer as banalidades da moda (porém em seu laboratório reprime ferozmente a grave dos técnicos), os prêmios Nobel Kastler e Monod dão seu aval de intelectuais "de esquerda", sem falar nos tecnocratas gentes direto do capialismo, como Louis Armand. A ciência serve deste modo para justificar todo este aparato de hierarquia social proporcionando-lhe critérios "objetivos". Aparentemente esta hierarquia já não refletiria, no momento presente, a divisão de classes da sociedade, mas unicamente as aptidões e a competência dos indivíduos. Sem dúvida é hábil substituir o latim pela matemática moderna como instrumento de seleção escolar no ensino médio: os resultados são os mesmos, porém providencialmente o mecanismo aparece algo menos excedente, assegura a colocação no palco destes novos jogos de circo com os quais se pretende entreter a multidões e aliená-la dos problemas sérios; como considerar de outra maneira a corrida à lua, estes robôs pisando o pólo lunar ao preço de milhões de dólares que representam o suor e o sangue de milhões de homens a quem se atira.

A luz destas observações sobre o verdadeiro papel que tem a ciência, o cientista, o sábio, aparece como o agente destes mecanismos de servidão. Estar ou não consciente das forças a serviço das quais trabalha, não o escusa de ser seu cúmplice. Com efeito, todas as motivações de uso externo que eu citei acima, seja do progresso técnico, o destino da humanidade, ou ainda a ética da ciência pela ciência, isto tudo é mais do que hipocrisia frente aos fatos. Na realidade, através da pesquisa, como acontece em toda parte, o que inspira os cientistas é corrida ao poder. Seja no interior da comunidade científica ou no âmbito da sociedade em geral, é sempre a ideologia de elite a que se põe em marcha. Uma carreira científica universitária é, atualmente, um comodíssimo trampolim para determinados postos governamentais. E por que não falar, muito despretenciosamente, das múltiplas vantagens materiais que os cientistas extraem de sua profissão: a um emprego estável e salários confortáveis, somam-se, em proporções crescentes com sua situação hierárquica, algumans viajens gratuitas ao extrangeiro ( ou esmo remuneradas, pois os honorários são sempre supervalorizados), alguns benefícios adicionais, ás vezes consideráveis contratos com a indústria, cargos de conselheiros cientificos e ... alguns prêmios cientificos dignos de ser levados em conta, como o que hoje me concedem, por que outro motivo, se não este, teria eu me candidatado?

E agora encontro as respostas  às perguntas que coloquei no início. Por acaso outorgam os prêmios científicos aqueles que cumpriram da melhor maneira com papel que lhes assina esta sociedade. São premiados por propagar e manter a idéia de uma ciência politicamente neutra e socialmente progressista, por acertar e difundir a ideologia de elite e de competição e por ajudar, assim, a classe dominante a mascarar os mecanismos de exploração e opressão sobre as quais esta fundada a sociedade. E naturalmente, quanto mais "puro" e inconsciente é o cientista deste papel  que se lhe atribui, melhor o interpreta e dá o interesse de um sistema de prêmios consistente em dinheiro efetivo e e em prestígio individual ou em migalha de poder. Porém, como todo sistema de premiação, o mecanismo de escolha dos laureados apresenta séria falhas, e assim nesta ocasião, o dinheiro de um prêmio científico ajudará aqueles que querem construir uma sociedade sem exploração, sem hierarquia e sem prêmios.

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